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11/08/2022

Era numa segunda feira o grande dia do processo seletivo. Após muito entregar meu currículo em diversas lojas do shopping Tatuapé enfim recebi um telefone de uma rede varejista, até então não sabiam da minha condição, uma pessoa Trans indo fazer entrevista de emprego em uma grande rede varejista do país.

Nos dias que antecederam a entrevista mil perguntas e questionamentos na minha cabeça: será que alguma pessoa Trans trabalhava lá? Será que eu ia encontrar algum LGBT dentro daquele ambiente? Será que alguma vez uma pessoa Trans esteve lá dentro fazendo entrevista? Ou seria eu o primeiro?

No domingo quase não dormi de ansiedade, como seria a entrevista e como me portar pra “passar despercebido”, e pensei: precisava disso? Passar despercebido? Talvez seja esse um mecanismo de defesa, uma camuflagem pra evitar situações como as que aconteciam na época da escola, época que a palavra bullying nem existia no contexto social. Escola geralmente é ambiente hostil para pessoa Trans, pelo menos na minha época em 2009, era.

Cheguei no shopping, minha melhor roupa no corpo, meu tênis mais bonito, meu cabelo penteado para trás e lá se vai o Bruno, atravessa a fachada da loja para a entrevista, agora já não daria mais para desistir, iria até o fim. Me aproximei de um rapaz que possuía no pescoço um crachá da loja:

– Boa tarde, me chamo Bruno e vim participar de um entrevista com Remmy.

– Claro, aquela sala ali – apontou o rapaz para uma salinha ao lado do caixa da loja.

Por um instante veio um alívio em mim, pude identificar que o rapaz pertencia à mesma comunidade social que eu, a comunidade LGBT. Então, ali supostamente não seria um ambiente hostil para a diversidade.

Na entrevista, entre as perguntas: Qual seu ponto positivo? Pontualidade respondi.

Qual seu ponto negativo? Ansiedade.

Fiz uma pequena redação com o tema: “Desafios do meio ambiente para novas gerações.”

Entrevista termina, o contratante informa que liga assim que souber o candidato aprovado. Sai da loja com um sentimento de decepção e tristeza, com certeza não teria gostado da ideia de ter uma pessoa Trans na equipe dele, ou provavelmente não saberia usar o pronome correto. Pensei em desistir de arrumar emprego formal e tentar montar meu próprio negócio, e quem sabe assim conquistar minha independência financeira um dia.

Dias depois, na segunda feira da semana seguinte, meu celular toca, muito provavelmente mais uma das milhares de lojas que deixei meu currículo.

– Alô, Bruno? – fala uma voz com um sotaque que me era familiar.

– Sim, sou eu, o Bruno.

Aqui é Remmy da Rede Varejista do shopping, estou te ligando para te informar que você passou no processo seletivo da loja, consegue vir amanhã pegar o check list de documentos para sua contratação?

Por um segundo fiquei sem voz. Meu mundo parou, parou o som de tudo, parecia que em todo o universo só existia eu, e mais ninguém. Eu tinha sido aprovado, inacreditavelmente eu tinha sido aprovado depois de muitos nãos!
Começa, então, após aquele telefonema uma história incrível de trabalho e superação, e um mundo novo se abria pra mim.

 

 

Me chamo Bruno, tenho 30 anos e me considero uma pessoa não binária, não me enquadro no masculino tampouco no feminino. Estou aos poucos me descobrindo e me aceitando como uma pessoa transgênero, se permitir ser uma pessoa Trans neste país, acreditem, não é fácil e causa medo.

Nasci em Araraquara, interior de São Paulo, e desde meu primeiro ano de idade vim para São Paulo viver nesta cidade que amo tanto, atualmente buscando uma nova inserção no mercado de trabalho.

Cursei 3 semestres de publicidade e propaganda pela Uninove em São Paulo, tenho certificado de Agente De Aeroporto pelo Senac São Paulo e moro na zona leste de São Paulo. Acredito que precisamos construir uma sociedade onde desde a educação primária seja estimulada a implementação de um projeto de educação que vise trabalhar o conhecimento e o respeito à diversidade sexual. Acredito que leis não são o bastante para evitar crimes que a comunidade LGBT sofre, é necessário programa efetivo que vise respeito e conscientização desde a primeira infância.

Gosto de fotografar ler e estudar sobre países da América Latina.

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