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18/08/2022

O orgulho é uma manifestação discursiva que pode ser compreendida como natural a um grupo étnico fortalecido enquanto coletividade. Sentir orgulho deve representar a possibilidade de vivenciar e expressar uma identidade em liberdade, sem que isso implique em discriminações, ou qualquer espécie de estranhamento para as pessoas à sua volta. Porém, falar de orgulho, em meio a uma sociedade atravessada por discriminações, preconceitos e fobias, significa mais do que falar sobre a liberdade de expressão e o direito à vida, significa combater as desigualdades sociais.

Pessoas trans têm lutado pelo direito de viver em liberdade as suas identidades de gênero desde o início das civilizações. Apesar do investimento transfóbico para manter pessoas trans apagadas da história e longe dos espaços de interações na sociedade, são expressivos os avanços e as vitórias alcançadas pelo movimento trans olhando pelo retrovisor.

Em 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) passou a reconhecer o direito de homens e mulheres trans e travestis e pessoas não-binárias de substituírem nome e gênero, diretamente no cartório de registro civil, sem a necessidade de uma autorização judicial anterior. Esse avanço é histórico, pois desconstrói na prática a materialidade das categorias sexo e gênero e reflete um passo à frente na desconstrução do sexismo, da misoginia, do machismo e de outras tantas violências combatidas.

A derrota da CID-11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde), que afirmava que a identidade de gênero configurava um transtorno de identidade e ameaça à saúde da pessoa trans, foi um passo importante para repaginar a visão sobre homens e mulheres transexuais e travestis.

A exclusão do CID-19, em 2019, foi um marco para o avanço social em relação à lida de pessoas trans. Apesar de muito recente, já é possível visualizar os impactos positivos que essa mudança trouxe. A visibilidade na política é um deles! Nas últimas eleições para cargos políticos em 2020, foram eleitas 31 pessoas trans (30 mulheres trans/travestis e 1 homem trans), número quatro vezes maior que o das eleições de 2016, contando com o feito histórico do primeiro homem trans eleito a um cargo político no país.

Além disso, o número de universidades a acolherem a população trans com ações afirmativas tem sido crescente! Cada vez mais a sociedade tem reconhecido a importância de acolhimento da população trans nos diversos setores da vida pública. Universidades têm se organizado para possibilitar que pessoas trans possam ingressar no ensino superior (com a preciosa contribuição do movimento LGBT acadêmico). Assim como, aos poucos, empresas de diversos setores estão reconhecendo o valor de oportunizar vagas afirmativas de emprego para a população de homens e mulheres transexuais e travestis.

Mais recentemente, em Junho de 2022, o IBRAT (Instituto Brasileiro de Transmasculinidades) foi registrado como órgão civil a integrar os espaços de publicidade na organização política e de luta de pessoas transmasculinas no Brasil, se juntando à ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) no reconhecimento institucional de entidades políticas na representação de direitos civis da população de homens e mulheres trans e travestis vivendo no Brasil. Mais um passo dado frente ao desmonte das desigualdades de oportunidades enfrentadas por vidas que importam.

Fontes:

SILVA, DANIEL N. . Signos injuriosos: Saba Mahmood, os cartuns dinamarqueses e o debate sobre ideologias linguísticas. Debates do NER (UFRGS) , v. 19, p. 91-110, 2019. Acesse em: https://seer.ufrgs.br/index.php/debatesdoner/article/view/99734/55823.

Gênero Número. Acesse o link: https://www.generonumero.media/trans-eleitas-em-2020/.

Senado Notícias. Acesse o link : https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/07/14/aprovado-projeto-que-estabelece-cota-para-mulheres-em-eleicoes-proporcionais.

LIBI, F.; VIP, A. Aurélia, a dicionária da língua afiada. São Paulo: Editora da Bispa, 2006.

 

 

Apolo é transgênero, escritor e nordestino. É também educador, acadêmico, linguista, coordenador da pasta de educação do IBRAT (Instituto Brasileiro de Transmasculinidades) e aspirante a político.

 

 

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