04/08/2022
Falar sobre transfobia é urgente.
Esse diálogo expõe uma estrutura violenta, que tira a vida de pessoas trans no Brasil, a ameaça de diversas maneiras e em diferentes espaços.
Um desses espaços é o ambiente de trabalho.
A cisgeneridade (condição da pessoa que se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer) e a cisnormatividade (imposição da cisgeneridade) que são estruturais na nossa sociedade, estão presentes também na vida laboral, orientando as relações sociais através de critérios arbitrários baseados na binariedade homem-mulher e provocando violências simbólicas que ferem os direitos básicos da comunidade trans.
Essas violências simbólicas se manifestam cotidianamente e muitas vezes explicitam uma disputa em torno da verdade sobre o gênero, onde a pessoa cisgênero tem o poder natural de julgar a vivência trans, suprimindo-a e categorizando-a, negando o direito da pessoa transgênero ao discurso e à autodeterminação. Dentro desse mecanismo de poder, a vítima de transfobia é impedida de acessar o direito à sua identidade de gênero.
Situações comuns de transfobia no trabalho são o impedimento ao uso do banheiro conforme a autodeterminação de gênero, a negação ao direito de uso do nome social e pronomes de tratamento, assédio moral e sexual, entre outras violências que apresentam o intuito de punir e corrigir, com o pressuposto de que a transexualidade é um desvio de conduta.
A disputa em torno da verdade sobre o gênero tem base em um discurso biológico sobre o que é natural, segundo as normas da medicina. A patologização, então, surge como ferramenta de invalidação da identidade trans.
Nessas situações a pessoa trans é vista sob a lente da anormalidade, por conseguinte seu discurso é deslegitimado, o que dificulta as denúncias sobre violência no trabalho. A inexistência de leis que reconheçam direitos sociais e civis à comunidade trans agrava esse panorama, onde muitas vezes é necessário ir em busca dos tribunais para ter direitos básicos reconhecidos.
Vemos um cenário crítico, onde há um alto índice de desemprego e ausência de políticas públicas que incluam a comunidade no mercado de trabalho e possibilitem a permanência desses profissionais. Muitas vezes, pessoas trans se encontram precisando negar a própria identidade de gênero para encontrar um emprego ou mesmo, sendo obrigada a trabalhar em empregos informais onde via de regra não são valorizadas,
Dessa forma a comunidade se vê marginalizada, esses corpos abjetos em situação de vulnerabilidade social têm sua saúde física e psicológica comprometida algumas vezes de forma irreparável, como nos casos de pessoas trans suicidadas por essa dinâmica opressora.
Como transformar esse cenário? É importante que políticas públicas de inclusão sejam desenvolvidas e as empresas estimulem ações que facilitem a entrada de pessoas transexuais no mercado. Investir na transformação da cultura de empresas pode promover a inclusão e prevenir a transfobia no trabalho.
Algumas estratégias para o desenvolvimento de uma cultura interna inclusiva podem ser: o amplo apoio na promoção dos direitos de pessoas trans no ambiente de trabalho; estímulo à educação e instrução de colabores em relação aos direitos da comunidade trans; campanhas de marketing que representem o respeito à diversidade; benefícios trabalhistas adaptáveis à configurações de vida diversas (familiares, sociais entre outros exemplos); programas de treinamento direcionado à pessoas trans; capacitar os profissionais de recursos humanos para lidarem com demandas da comunidade trans; apoio psicológico; ações educativas de respeito e inclusão à diversidade que criem interações entre colaboradores.
Lembrando sempre que transfobia é crime, de acordo com a Lei 7.716/2018.
A transformação da realidade de violência contra pessoas trans no ambiente de trabalho é extremamente necessária e possível através do fomento ao acesso à empregabilidade e a mudança na cultura das empresas, para a inserção e recolocação no mercado de trabalho acontecer de maneira saudável, digna, respeitosa e funcional.
Fontes:
https://revistaforum.com.br/lgbt/2017/6/10/transfobia-no-mercado-de-trabalho-21262.html
https://treediversidade.com.br/combate-a-transfobia-e-inclusao-de-pessoas-trans-nas-empresas/
Ana Souza é pessoa trans não-binário, nordestine, pansexual, comunicadore e Social Media. Idealizadore do coletivo @territoriodascores, e da página de arte @transpassagens, suas produções conectam artivismos, gênero e diversidade e contemporaneidades, e é apaixonade por criar pontes através das palavras. Escreveu um livro sobre poéticas queer e vida digital, e vive em busca de criar narrativas de comunicação entre-mundos